terça-feira, 26 de agosto de 2008

A recente história de uma freguesia abandonada...


Imagino-me imigrado desde 2005 num país distante e regressar por esta altura à minha freguesia natal...

Mal chego à Portela do Homem e que vejo de novo?...A estátua em memória do imigrante desapareceu. Obviamente fico alarmado. Será que cheguei ao concelho errado? Ou será que o concelho imigrou também? Irrraaa... que mau presságio.
Mas ok, conheço bem as maravilhosas paisagens da zona da Portela do Homem para ter a certeza que estou no bom caminho. Continuo até chegar a Leonte. Em Leonte vejo dezenas de restos de árvores que aparentemente foram abatidas por alguém sem escrúpulos, visto que as ramas ficaram todas lá! Ok, não sei que por esta altura existe uma entidade chamada SEPNA que anda sempre em cima destas coisas, muito menos me passaria pela cabeça que o PNPG pactuou com tal imundice...

As antigas casas florestais estão na mesma...a cair, ano após ano!

Quando chego finalmente à Vila do Gerês, dou um suspiro de alívio. Afinal, tirando uma ou outra construção significatica (de particulares), tudo se encontra na mesma. Os visitantes ainda não têm onde pôr o carro, e todos os passeios estão ocupados pelos ditos...embora me pareça que os turistas já não são os mesmos em número, o que, pelos vistos, vem sendo hábito! Cada ano que passa as queixas dos comerciantes e hoteleiros acerca da falta de clientes aumenta! Alguém já se preocupou com as razões desta falta de procura?!!! Nãaa...não interessa, a autarquia tem concerteza mais com o que se preocupar.
Pergunto a um deles (hoteleiro) o que foi feito para alterar esta redução da procura e ele, resignado, diz o mesmo de sempre! "NADA..." nada foi feito (mas depois pensa melhor e diz...): “ahh, desculpe, este ano tivemos dois meses de concertinas a bombar...”. pergunto-lhe admirado com tal inovação se, porventura, era alguma escola de tocadores? ele abana com a cabeça...”naaa, foi a animação termal deste ano, e do ano passado e dos próximos que aí vêm!!!” .
Continuo a minha viagem e chego à Assureira. Aí chegado, não reconheço o parque. Pensava eu que, por esta altura, já o famoso “banco do Ramalho” era local de reconhecido interesse municipal, mas nem o consegui ver dada a quatidade de árvores infestosas que o rodeavam. Para piorar o cenário também aqui foram cortadas árvores e deixada no local toda a rama que não interessava. Alguém já reparou no estado de abandono a que foi votado este parque?


A Direcção do PNPG tem, obviamente, muitas responsabilidades mas, se eles que não são de cá, e não olham pelo nosso património, fazemos o quê??? Cruzamos os braços e queixamo-nos do nosso triste fado? E a nossa autarquia, não faz nada?
Pensava para mim que, e tendo muita sede, restava-me o consolo de ver a nossa água sempre fantástica e as nossas fontes. Seguindo viagem, fiquei logo ansioso por chegar á fonte do tanquinho, de poder voltar a beber aquela água fresca tão caracteirística da nossa terra! Puro engano...
Mal chego lá deparo-me com uma placa intimidatória...”ÁGUA NÃO CONTROLADA” Município de Terras de Bouro...
Alguém com bom senso, se lembraria que, chegados ao ano de 2008, até a nossa água (uma das nossas maiores riquezas) corre perigo?! Como é possível que até as nossas fontes, conhecidas por esse país a baixo, procuradas frequentemente por centenas de pessoas que as adoram, estejam votadas ao abandono?!
E já agora, alguém me consegue dizer o que mudou, durante os últimos 3 anos, da Assureira ao Alqueirão? Já alguém viu alguma diferença no largo do Alqueirão onde começa a freguesia?

NEM UMAS MÍSERAS PLACAS A SINALIZAR OS LUGARES TEMOS!!!

Longe vai o tempo em que as nossas gentes boas defendiam a terra e as suas riquezas!

A verdade, é que realmente não são apenas as fontes que estão votadas ao abandono. A própria freguesia, refem de interesses da nossa autarquia com vista às eleições que se avizinham está, também ela, abandonada!
Há quem diga que nunca se limpou tanta valeta, nunca se fez tanto muro para amigos, nem nunca se viu passear tanto funcionário da Cãmara como agora! Pudera...isto é realmente a ideia de desenvolvimento que as mentes pequeninas e mesquinhas têm...
Mas será isto sinónimo de desenvolvimento? De mais qualidade de vida para os moradores? Claro que não!
Aliás, agora que o verão se está acabar, e que os nossos imigrantes e visitantes se foram, voltamos à nossa deprimente realidade! Estamos cada vez pior!

Para além dos exemplos que enumerei anteriormente, gostaria de partilhar mais um que me parece relevante.
Embora, muitos possam acusar este exemplo de ser minucioso, para mim é deveras revelador, e demonstra bem a atenção que gente muito bem paga dá a certos pormenores.
Tem a ver com a revista que a autarquia lançou intitulada: “À Descoberta do GERÊS – Terras de Bouro”, com parte dos custos da mesma a serem suportados pelos hoteleiros e comerciantes da nossa freguesia. Refiro-me, nomeadamente, ao mapa do concelho que essa revista apresenta nas suas últimas páginas.
Já alguém reparou que vêm todas as freguesias do concelho menos Vilar da Veiga?! Ok, concordo que venha a Vila do Gerês, mas e Vilar da Veiga? Deixaria de ser freguesia? Já agora, onde anda o senhor Presidente da Junta para defender os nossos interesses? Esqueceu que é o Presidente da Junta de Freguesia de Vilar da Veiga???


Quo Vadis Vilar da Veiga...

1 comentário:

  1. O Gerês é para mim um local de fuga. Representa uma parte do paraíso perdido. É aí que melhor me sinto e desde que começou a percorrer a serra nos rastos das mariolas descobri um mundo novo. Caminhar 8 horas pela serra para mim não é nenhum sacrifício, mas sim um enorme prazer. Como gosto de história, comecei a ler sobre o Gerês, sobre o PNPG, sobre os serviços florestais e tudo mais que encontrava. Procuro também falar com todas as pessoas que encontro. Escutar as histórias de quem viveu e vive a serra. Aprendi a respeitar as populações. Nasci urbano e cresci urbano. Tive das zonas rurais a visão do turista domingueiro. Conhecer a serra permitiu-me ver mais. Permitiu-me conhecer o problema das populações. O PNPG teve a vantagem de preservar, mas isso seria apenas o ponto de partida. Depois era necessário desenvolver e isso o PNPG não conseguiu. E não consegue porque está asfixiado. Eventualmente, no início terá sido por opção. Há muitos gestores e técnicos do ambiente que possuem uma visão "conservacionista". Na verdade, esses gostavam de ter uma reserva e não um Parque Nacional. Entendem que o homem está a mais. Hoje julgo que será mais pela questão financeira. Acredito que muito dos técnicos dos PNPG gostavam de fazer mais. Só que o dinheiro dá para manter as portas abertas e para pouco mais. O problema seria então o subfinanciamento pelo ICNB e menos da gestão. Resultado. O parque torna-se autista, ainda mais "conservacionista" e "proibicionista". Educar, acompanhar e desenvolver pede meios que não possuem. É mais fácil dizer não. Quem perde? As populações. Há muita gente que entende que as casas dos guardas estão abandonadas, os caminhos fechados e parece haver uma estranha lógica nisso. Nas férias li como as populações cuidaram do estradão pela Bouça da Mó. Não pude deixar de pensar se na acção do PNPG não estava uma tentativa de simplesmente fechar o estradão. A exemplo do estradão para os Carris. Resolver o problema da circulação pela degradação. Li também recentemente a provação de projectos para a Serra Amarela e acho que são um sinal de esperança. Espero que seja um sinal de mudança de direcção.
    Como disse sou um urbano. Um urbano que gosta de caminhar pelas serras. E devo dizer que do que conheço, Terras de Bouro é um dos bons exemplos. Ainda que precisasse de disciplinar os excessos de Verão. Percebo por isso a sua amargura.

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