segunda-feira, 17 de março de 2008

REQUIEM


Viam a luz nas palhas de um curral,

criavam-se na serra a gurdar gado.

À rabiça de um arado,

a perseguir a sombra nas lavras,

aprendiam a ler

o alfabeto do suor honrado.

Até que se cansavam

de tudo o que sabiam,

e, gratos, recebiam

sete palmos de paz num cemitério

e visitas e flores no dia de finados.

Mas, de repente, um muro de cimento

interrompeu o canto

de um rio que corria

nos ouvidos de todos.

E um letes de silêncio represado

cobre de esquecimento

esse mundo sagrado

onde a vida era um rito demorado

e a morte um segundo nascimento.

Miguel Torga

Vilarinho, 18 de Julho de 1976

Sem comentários:

Enviar um comentário